ANOS - TREVA
Rosa Pena


As histórias que não são minhas, as que não vão obrigatoriamente parar no JN, que fazem parte do cotidiano, do lugar-comum, por vezes trágicas, mas banais nesse nosso território nacional, são atualmente as minhas preferidas. O motorista Uber conta que perdeu um filho na guerra do tráfico; o camelô, desolado, expulsou a mulher de casa, porque ela deu pra uma ambulante; o gerente do PRIX vive um problema conjugal, porque a conta de seu cartão de crédito acusa o pagamento de um motel; o porteiro do prédio narra que migrou com oito irmãos, roupa do corpo e batatas (segundo ele as melhores do mundo), para Rocinha; o garçom tenta uma chance no The Voice e começa a cantar sertanejo com voz abaritonada – histórias de todos nós que, reunidas, vão formando a imensa rede de seres que se agrupam no nosso planeta desolado.
Quando as histórias estão reunidas e devidamente enfeitadas com os apliques da imaginação, viro dona delas e saio contando a vida dessas novas figuras dramáticas, para qualquer um que me ofereça um instante de silêncio.
 Esta é à minha forma de manter viva a minha escrita.
Amo as palavras, amo passantes, pizza Marguerita, bife acebolado, sorvete e tudo que estiver na geladeira.
O Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley descreveu a desumanizada sociedade do futuro em 1932 (sempre existiram, Hitler, Bolsonaro etc.).
 Na pandemia uma tristeza absurda transferiu-se de mala e cuia para dentro do meu coração. Toda noite me idealizo sentada no chão de uma estrada florida, ouvindo Tom e queimando a mufa de como conseguir cruzar um túnel imenso, necessário, para conquistar o coração da humanidade.
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 27/03/2021
Alterado em 01/04/2021





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