Coisinha à toa
 
Rosa Pena


Conheci Ari quando ele virou meu vizinho de rua. Nunca conversamos, um oi , mas o fato de morarmos próximos fez dele meu conhecido  —  não amigo.
Um dia, aparece na TV ao vivo e a cores um assalto. O assaltante, pego em flagrante por uma câmera indiscreta, porta em uma das mãos um revólver e na outra o dinheiro. Focalizado o rosto do meliante, reconheço Ari " o perigo mora ao lado".
Surpresa e perplexa, olho com mais atenção. A princípio, nem quis acreditar. Sem ter como contestar a fidelidade das imagens, considero que não há mais o que pensar, nem esclarecer. Cabe à justiça julgar. E como a justiça virou Cantina há bastante tempo,idealizo: 
 Uma portuguesa!
E vem. Sem manjericão, sem sal, e nós temos que engolir a insossa massa.
Ari volta a morar em seu apê com a mesma cara de sempre, e volta à tranqüilidade de seus dias. Afinal, foi só um “roubinho”, pequeno roubo. Coisinha à-toa.
Seria só um detalhe a mais no cotidiano de nossas vidas — já tão acostumadas às falcatruas, onde a desonestidade banalizou-se — se meu vizinho não insistisse em afirmar que o revólver e o dinheiro que estavam em suas mãos apareceram por acaso, não houve intenção de roubo. Foi uma infeliz coincidência de hora local, porte et cetera e tal.

Percebo, neste instante, que atualmente me irrita por demais as negativas das claras evidências, as negativas do óbvio. Sinto que, além de sermos lesados em nossos tesouros, em nossa dignidade,  recebemos um atestado de babaca. Guarda o seu, que eu guardo o meu.

Sarney vai ser o novo presidente com o Renan de vice? Quem sabe não vai ser o Cunha com o Jucá?




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Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 09/06/2016
Alterado em 09/06/2016
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