Sensorial  
   
conotativo

                               Rosa Pena

Ela sabe que mesmo as coisas presentes parecem ausentes e vice-versa. Sabe que ele está com ela porque ele atualiza o carinho deles semanalmente. Pacto de ternura secreta. Ela, por sua vez, enfeita a casa para morar com essa imagem, cozinha o que gostaria que comessem juntos, ouve Bill Evans para acompanhar o El Pecado 2008 de Raúl Pérez, “um vinho para pecar”, que aguça o paladar de tudo.

Quando ri, imagina seu gargalhar, assim sua alegria fica um pouco mais exagerada, mais solta, mais colorida do que costuma ser. Ele é o dono do maior sorriso do mundo (está no Guinness book), quando está de bom astral.

Todos os filmes e músicas parecem deles, por alguma frase, uma pintura, um lugar, um solo de sax, uma flor. Sua escrita passou a ser refém de sua leitura, e mesmo de longe, ela sabe do seu olhar, das caretas, do tom de voz, das frases queridas, dos pensamentos céticos.

Com os braços mais longos que os do oceano trocam abraços e costumam percorrer, de mãos dadas, os mesmos caminhos ainda que em terras distantes. Sua saudade é companheira da dele, logo nunca ficam sozinhos.

Visto assim seria uma linda história de amor e talvez pudesse ser real se existisse o beijo, mas que pena! É beijão que ele manda para ela, logo são apenas bons camaradas. Enamorados, amados, amantes não trocam ternura no aumentativo ou diminutivo. Beijinho, abração, amassinho, pegadão!?

Sai o vinho, o Bill Evans, o sorriso. Entra o Tatuzinho Três Fazendas, o Velho Barreiro (cachaça na terceira idade é foda), o bolero brasileiro e a deprê de não ser a Gisele Bündchen (depois da gravidez ficou mais magra ainda... A inveja mata?).

Por que, mulher chata, ainda insiste no que já acabou?

 —Sem ele o mundo fica muito quieto, escuro, áspero, sem perfume, frio, nervoso... Em todos os sentidos sensorial e conotativo.

 
 
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 05/08/2011
Alterado em 03/10/2017
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