Passione
         (só em novela)
                 Rosa Pena 
 
                          "E esta minha ternura,  meu Deus,
                            Oh! toda esta minha ternura inútil, desaproveitada!...”
                                      (Canção dos romances perdidos) 
                                                 Mário Quintana

 
 
É curioso que ela tenha imposto a si própria o silêncio e sofra com ele. Sua boca fechada virou uma gaiola de palavras, antes elas batiam as asas felizes mundo afora, agora no cativeiro treinam só as monossílabas. Atualmente busca ser breve e triste, talvez pela angústia de não se repetir ou porque a risada mais gostosa da Vitoriosa ficou démodé. Alegria escandalosa foi reprovada no Inmetro. Que nem responder e-mail. Coisa de cabeça oca. 
 
Por onde anda aquela criatura agitada, aquele animal faminto de paixão? Caminha sisuda quase antipática. Lógico que  sem responder e-mail. Culto tem ar de sofrimento e não responde (nem que a vaca tussa) e-mail. 

 Ele, com seu jeito elegantemente depressivo, com o  coração ausente, sem piedade alguma pelo que ela sente, acabou por transformá-la numa mulher contida, pois afinal declarar-se para alguém que só sabe dizer que não tem mais tesão em nada é um pouco demais para qualquer auto- estima, mesmo que essa estima seja muitíssimo burra.

Caraca! Há bem pouco tempo ele parecia estar sempre encantado por ela.

Aos poucos, tudo que não foi dito por inteiro, bem pouco vivido, um selinho  roubado de última hora, mas intensamente sentido (a dois!?), se esvaiu como se nada houvesse existido entre eles, como se o tempo de enlevo tivesse tido a duração da vida de uma abelha, 60 dias no máximo, mas uma abelhinha operária que nunca foi rainha, que jamais provou de seu próprio mel e de sobra (nessa maldita metáfora), levou uma enorme ferroada de um zangão em crise de existência 48 horas por dia num de 24, que a cada segundo se afasta mais de seu próprio sorriso para cultuar sofrimentos que o levarão ao seu verdadeiro eu.

Maldita psicanálise.  Freud e seus discípulos deveriam ir pra puta que pariu e lá encontrariam  respostas pros usuários de divã!


Ela já não consegue se comover nem  num Love Story que mata o mocinho em plena lua de mel. Passione passa longe de suas atuais metas emotivas. Perder três quilos virou prioridade. As Julietas  de plantão que  procurem um psicanalista (de preferência o dele) e aprenderão que sorrir faz mal. O grande barato mesmo  é o sofrimento! 
  Mas, com todas essas saudáveis crises de lucidez,  não está liberta. Continua a tentar esquecer os olhos dele, a pele, o cheiro, que foi tão pouco exalado por suas narinas, (ó dó!), que já devem estar em outro vidro. Esquecê-lo, um tiquinho, um tanto, um muito, todo. To-tal-men-te.

 
 Então porque esta cisma em escrever para contar que quer esquecer? Que paradoxo!  Talvez porque nessa ladainha  ela  o esqueça definitivamente e conseqüentemente o que é o amor.
 
 
 
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 19/07/2010
Alterado em 01/12/2010
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