Prema Arte
                Rosa Pena
 
 
Viajar novamente pelo velho continente em tão pouco espaço de tempo poderia quebrar o encanto que ainda estava no ar. Em 2007 tinha sido o máximo!
Hoje sei que é óbvio que não. Quantas vezes eu olhar Van Gogh mais terei para ver.

O casamento de minha filha e a cor dos meus cabelos aceleraram minha decisão.


Sei lá em que momento eu virarei avó e quando for... Ah! A viagem será para dentro de mim e sem hora pra voltar tamanha a saudade. Mergulhar como Rachel de Queiroz na arte de ser. “A saudade é de alguma coisa que você tinha e que lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança”.

Meus cabelos agora pintados regularmente viraram a prova viva que a energia também precisa de tinta, mas ela não existe por mais que o homem tente inventar o Homo sapiens imortal; sim, pode-se viver até duzentos anos, mas duvido que seja sem dor nas pernas, sem vontade de fazer xixi muitas vezes mais que a garotada, sem uma glicose ou um colesterol alterado que tiram nosso pé do acelerador. Penso como os elefantes. Quando o vigor virar poente quero morrer quieta no meu lar.

Meu marido reclama do saco de viagem e da mochila, do sobe e desce dos trens e principalmente da minha urgência em viver. Não! Não vou dormir de tarde em pleno Algarve um lugar que encanta até um desiludido. Quero correr por Albufeira, quero por que quero estar no dia seguinte em Sevilha, depois voltar a Faro, ainda que mudando uma hora no fuso e no outro dia rever Lisboa, olhar o Tejo e pensar no Pessoa. Tabacaria, qual delas Fernando?

Ah! Mais lá para frente tomar um vinho do porto no Porto e em alguma hora chegar a Vigo, depois a Santiago de Compostela. Não como peregrina como tantos imaginam quando se fala em ir para esta cidade linda da Espanha. Acho que, dos que lá estavam, apenas alguns fizeram realmente o caminho com o propósito de ter mais noção do seu "eu" ou para escrever livros no rastro do mago. Muitos usam como trilha para bicicleta, moto ou até mesmo como prova de resistência. Não é necessário maior motivo que não sejam os olhos. Sim, ficarmos com as vistas iluminadas diante da beleza incomensurável do lugar, da Catedral, de construções com cerca de mil anos.

A noite é extremamente agradável sentar em bares e ouvir vozes nos mais diversos idiomas, sentir o planeta como um lugar sem fronteiras, bandeiras, cheio de paz. Não será isso a verdadeira magia? Ninguém preocupado com roupa, língua, credo, curtindo com o mesmo entusiasmo um jazz, um fado ou um bolero? 

 
Eu tenho mania de paz. Ela dirige a minha vida ditando o meu sorriso, meu pranto triste ou de encanto (chorei entre outras na catedral de Sevilha), ela dita os versos dos poemas que ainda farei, ela atualmente baixa minha voz e até me cala ainda que eu tenha razão para colocar fim a uma briga e finalmente ela faz meus braços mais longos que os dos oceanos para abraçar com força meus amigos.

Mas no que ela é mais farta comigo é na oferta de amplitude de minha visão, para que eu possa enxergar sem medo ou pudor a suprema arte do criador em cada caminho que percorro.


Ontem eu vi toda a beleza do luar carioca.

Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 22/06/2009
Alterado em 26/01/2010
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