Feliz 2010

                   Rosa Pena





Cadê o verão? Não aparece mais o sol, pois ninguém mais acredita nele, nem em qualquer das estações do ano, até porque a primavera foi um dos maiores invernos que já tivemos. O flamboyant floriu da minha cara e abriu alguns pequenos galhos só por teimosia. Por onde andarão os gerânios em pequenos vasos nas janelas dos apartamentos, que ajudavam o urbano a se sentir no campo? Haja Hortência para agüentar essa monotonia de chove chuva, chove sem parar, que nos leva ao shopping para compras, compras, compras, que não mais nos permite comer ao ar livre, mas em praça de alimentação sem copos de leite, só Milk Shake.

Até 2007, no final da primavera, o carioca já estava bronzeadíssimo esperando o verão para receber o turista branquela que vinha ver o réveillon na praia. Papai Noel chegava em dezembro já meio travestido de rei Momo, visto que aqui curtimos acelerado e antecipado o carnaval. O sol está no DNA do carioca. Um calor escaldante, biquínis coloridos, um chope cu de foca em cada esquina, cineminha de sandália rasteira. Capa é objeto em extinção, galocha já foi extinta. Existe um ar de revolta em minha aldeia, fruto do esforço pela sobrevivência sem o astro-rei que míngua no espaço, cansado do pouco caso que lhe foi dado nos últimos tempos.

Concluo que essa danada melancolia natalina ficou acentuada pelo quase pinheiro nevado em solo carioquês. Atenção: Eu sou apenas uma rapariga sul-americana que adora suar. Uma tupiniquim. Não me permitirei a essa tristeza de sentir que não sou merecedora do sol, pois sei que nada fiz, mas sim essa política maldita que nos desplugou da alegria com tantos discursos inflamados, tantos juros elevados, tantos movimentos de sem terra, sem lei, sem juízo que me sinto no direito de gritar pelo sumiço do verão e deflagrar o movimento dos sem bronze.

Tenho medo que o calor não volte mais e em breve seja aberto mais um processo pelo o escândalo do roubo de ultravioleta na camada política brasileirinha. Num difícil não! Roubaram até doação de desabrigado! Haja casaco de saco para agüentar esse final de 2008.

Feliz 2010 por precaução. Vai que 2009 suma!


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Feliz Natal! Feliz 2009 e obrigada pelo carinho de todos vocês.
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 18/12/2008
Alterado em 17/04/2009
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