Entre Paredes
Rosa Pena
 
 
tempo! Bota bicho ruim nisso, por vezes de asas, por vezes com artrose nos joelhos, que trava na tristeza, voa na alegria, derrapa na saudade, que na felicidade deixa de ser tempo e vira momento, esse velho caduco que sequestra nossos melhores dias, que tatua os anos em nosso corpo, nos faz perder a leveza, mexe, modifica, desinstala as certezas! Mas... Um voto de louvor para o calendário. É, para ele mesmo, que a cada virada de folha sepulta perdas e até nos leva a sorrir outra vez, ainda que de nossas rugas, do nosso peso nas pernas.

A disputa, o excesso de vaidade, o porquinho cheio de moedinhas perdem o sentido quando já estamos quase perdendo ele. As coisas não se despedem de nós. Elas se vão mansas e silenciosas sem que nós percebamos. Qual foi a última vez que usei uma frente única? Um salto dez? Passei uma noite sem dormir e continuei lisa, leve, solta? Que tinha um segredo no peito? Um mistério com um sorriso embriagador que tirava meu sono? 


Alfabetizei meu coração para ler cada adeus quando ainda está no "a". Reeduquei minha língua para silenciar diante de tantas coisas que antes protestava. Instrui meus braços a não pedir abraços, treinei meus olhos para a secura. Só não aprendi a conviver com o vazio. O oco  chega à meia-idade e se instala confortavelmente em corpos entediados pelas faltas de opções.
Açúcar não, gordura idem, álcool só em remédio e perfume, sexo igual a feriado nacional (alguns no ano e altamente festejados).

 
A ordem da existência é malvada. Quando a gente realmente aprende a mergulhar de cabeça a vida só nos oferece uma poça bem rasa e ainda assim todos ao redor ficam com medo da gente se afogar. O jeito é dar uma de maluca, deixar que imaginem algum tipo de demência e fazer o que ainda se consegue. Eterno é o tempo dos milagres e dos sonhos. 
 
O gato da moto ta me dando mole. 
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 16/06/2014
Alterado em 16/06/2014
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