De repente! 
Rosa Pena


 
Ela ligou toda eufórica do exterior.
-Mãe!!!!! Consegui finalmente ver a entrada da primavera. De repente as árvores do parque estão todas alegrinhas, ostentando botões. Cada dia abre mais um. Assim... De repente, bem de repente.

Quem nasce no Rio de Janeiro não percebe as mudanças das estações, não consegue brindar o sol, a gente não brinda o comum, já não repara que o flamboyant floriu, até porque ele nunca ficou totalmente sem flor. Inverno então nem se fala. Biquínis cavados e não pedrinhas de gelo na janela. Morangos nascem em qualquer ocasião.


Sorri de alegria por ver que ela conseguiu finalmente sentir as diferenças do clima.

Deitei pensando nisso. Noite “boa” daquelas que perto das três da manhã, finalmente, peço demissão do sono e levanto. Não estou tensa ou infeliz. Estou intensa e feliz. Meu coração também mudou de estação subitamente. Assim, de repente. Não estou mais escaldante de calor, molhada no suor da excitação, muito menos fria com os granizos da desilusão. Ainda tenho as maçãs nascidas da estação do desejo. Deixo-as bem guardadas no papel de seda azul, ainda vão ser saboreadas por mim e meu Adão, mas não agora de imediato. Depois, bem devagarzinho. Este momento é o de ver acácias, margaridas em profusão; acho que estão brotando até orquídeas fora de qualquer previsão. Estou lânguida, desejosa de um beijo macio, de ser regada por um carinho carinhoso. Estou flor explodindo em cores, desabrochando lentamente. Estou alma salpicada do orvalho da ternura. Não estou infantil, estou primaveril, estou jardim com sol leve, água fresquinha de chuva pequena, sopro de brisa amena. 

Ah! Que coisa boa tocar minha pele e senti-la pétala. Ah! Que coisa ótima, de repente, assim bem de repente, redescobrir o amor que sempre esteve presente. Depois morderemos a maçã, deitados em pétalas de rosas, margaridas e jasmins. De repente... Assim bem de repente, nós dois novamente. 
     


janeiro de 2006
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 04/06/2013
Alterado em 04/06/2013
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