A arte do tempo

Rosa Pena

 
Você que eu amei em 2011. A pele, o cheiro, os beijos, a presença, a ausência consentida e a fugida. Você na sala, no quarto, no trabalho, na rua, no cinema... Vendo ou não, sempre soube que estava aqui, como você sabia que eu estava ai.Você em reunião, eu no dentista, nós no jantar.

Você que eu amei em 2000. Podíamos ficar uma noite emburrados (dormir encolhidos cada um para um lado), mas sabíamos do amanhã de manhã um café para nós dois. Nosso amor nunca ficou menor, não fez ameaças vazias. Aconteceram momentos conturbados, de avisos que o céu estava nublado, sujeito a chuvas e trovoadas. Pequenas tempestades para depois sermos brindados pelo arco-íris feito para nós dois.

Você que eu amei 1990. Acostumamo-nos com coisas que pareciam terríveis de aceitar. Meu casaquinho se o tempo nublasse ainda que temperatura fosse de 40 graus ou eu tentando estacionar entre dois carros. Você ficava pra morrer! Em compensação sua mania de não comer cedo pra poder tomar mais cerveja. Provérbio vagabundo esse que você criou:- Comer dá bode! Seu ódio pela Internet... Tanta briguinha pra quê?

Você que eu amei em 1980. Paixão... De me roçar na sua barba por fazer, de você sempre saber quem estava tocando o sax, do seu ciúme dos meus decotes, de sua voz cantando Cartola, de nós garimpando NY, Marsalis, Village Vanguard, jazz, do nosso choro em dupla nas tristezas da nossa filha, nas perdas de nossos pais.

Você que eu amei em 1970. Cheirando seu cangote, que exalava lifebuoy, na garupa da moto. Sol, vôlei, Prado Júnior, mate, limão, contando tostão na praia para comer no La Mole, casando ao som de Beatles.

Você que eu amarei em 2012...

Bem-aventurado ano púbere.
 
 
 

Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 28/12/2011
Alterado em 03/01/2012
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