Eu queria fazer você rir, mas...
 
                    Rosa Pena
 
 
 
Júpiter, na CMJ (casa da mãe Joana), regeu este meu 2008. Com ascendente em Tatuí e descendente de Miphodi (minha tia-avó libanesa) deu no que deu. Tudo o que fiz foi influenciado pela titia, que cisma em vagar pelo espaço cósmico e baixar subitamente em corpos que não lhe pertencem.

Janeiro e fevereiro, minha filha em depressão. O dólar cai. O ano começa a cheirar mal.


Tomei médias e grandes porradas, mas vou levar em conta que 2008 é burro, e cismou que dezembro é março. Resolveu fechar com paus, pedras e deslizamentos o seu desarvorado caminho.


Março, abril, maio e um nódulo cutuca meu seio. O dólar cai mais ainda.
Um livro pronto para sair na Bienal de agosto e eu desisto em cima do laço, priorizo a operação. Que cheiro ruim tem 2008. Em julho, faço a bendita. Titia devia estar vagando pelo Oriente, pois minha biópsia deu negativa. O cheiro cessou por instantes.


Agosto, minha filha fica seriamente doente e começa o pior tormento que vivi nos últimos quatro anos. Sofre com um tratamento e faz duas cirurgias entre outubro e novembro. O dólar começa a subir.

 
Paro de fumar nesse meio tempo. É de merda o cheiro.

Para quem fuma desde que virou gente, a abstinência é um sofrimento danado, dói muito e, depois de quatro meses sem um cigarro, ainda não encontrei os benefícios esperados. Apenas recebo elogios de quem não fuma e dos médicos, que me garantem vida longa, apesar dos três tarjas pretas que tomo para esquecer o prazer da fumaça. Que me perdoem aqueles que querem parar de fumar e podem achar que estou cortando o barato, mas não consigo ainda ver as mil maravilhas de ter dito não ao tabaco, exceto a alegria de minha família. Meu pulmão e coração certamente também estão felizes. E o que eu vejo são mais três quilos na balança e uma ansiedade imensa. Que alta do dólar!


Gabeira perde aqui, Obama é eleito lá. O dólar continua subindo e o real vira definitivamente dinheiro virtual.


O fim deste ano teima em chorar, mas bendita seja essa necessidade de sobreviver, pois calço minhas havaianas, compro ração pro Horácio (coelho de minha filha), pego um filme na locadora (O cheiro do ralo) e quase me esqueço do que realmente eu queria fazer hoje. Era escrever um texto cheio de esperança para 2009.


Juro que faço isso quando encontrar de novo o meu sorriso sem ser o padrão de foto. Se você está com o seu plantado na cara, siga em frente. Afinal você não é descendente da Miphodi (que nunca precisou parar de fumar), não tem nada a ver com meus problemas, nem com os do Gabeira, que dirá com o sucesso do Obama.


Não se ligue demais no que escrevo. Ligue-se em blues e beba espumantes por mim. Os tarjas não me permitem fazê-lo.


Para o ano que vem, apenas um pedido: o reencontro do clima com a Terra. Chuva é bonita demais quando bate apenas na janela.

 

                                                      

PS: Não estou alegre nem triste. Apenas realista. Afinal, eu queria fazer você sorrir, mas...
Percebo que meu texto deu a chance de cada um fazer sua catarse pessoal. Menos mal, pois apesar do ano medíocre que passei eu vou indo bem e recuperando minha alegria. Recupere a sua!
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 05/12/2008
Alterado em 16/12/2008
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